Ética Animal, Comunicação não-violenta e Veganismo são pilares do MOVE, que a nosso entender erguem-se diretamente do alicerce fundamental: a Doutrina Espírita.

Entendemos que esses pilares, construídos e debatidos com mais intensidade recentemente na sociedade, decorrem diretamente dos postulados espíritas e devem ser assimilados na educação e prática espírita, desde a infância.

O Veganismo, passando pelo filtro do Espiritismo, melhor dizendo, de Jesus, que é para nós o referencial máximo de uma Ética Divina de Libertação Animal: humana e não-humana, é uma consequência moral do Espiritismo.

Neste artigo (https://eticaanimalespirita.org/2020/04/14/veganiso-sob-a-otica-do-triplice-aspecto-do-espiritismo/) abordamos o Veganismo sob o crivo do tríplice aspecto da Doutrina Espírita (filosófico, científico e religioso) e demonstramos como que se alinham na sua essência, sobretudo por serem movimentos de amor pelos seres humanos e não humanos, prezando pelo bom combate contra as chagas morais do orgulho e do egoísmo, tão prejudiciais. Allan Kardec e os Imortais, instruíram:

“O orgulho levou o homem a dizer que todos os animais foram criados por sua causa e para satisfação de suas necessidades” [1].

Do egoísmo “deriva todo o mal”. “Incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades” [2].

A lógica antropocêntrica-especista que se alastrou pelo mundo não é de determinação Divina, mas sim dessas chagas morais que ceifam a vida de bilhões de animais anualmente para consumos humanos, muitos banais e desnecessários.

Quem determina que nosso paladar é mais importante do que o interesse do animal de viver é o egoísmo. Quem determina que somos melhores do que os animais é o orgulho. Nunca foi Deus!

Dessa forma, aprendemos com Allan Kardec que o Espiritismo é, assim como a ciência, progressivo (não-dogmático) e apoia-se em fatos para a assimilação das novas descobertas, como é o caso da ética animal e do veganismo, que não podem mais ficar de fora da educação espírita. Vejamos o que disse o Codificador:

“[…] apoiando-se em fatos, [a Doutrina Espírita] tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que formaram de Deus.
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. […] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia […].
Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.” [3]

Assimilar a ética vegana nos espaços espíritas é um imperativo de coerência, sobretudo neste tempo em que a ciência já constatou os graves malefícios da “indústria da morte” [4] para as pessoas, os animas e o meio ambiente. Aliás, o próprio conjunto literário fundamental e complementar da Doutrina Espírita foi claro nessa direção. Basta verificar o nosso CATÁLOGO DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA ÉTICA ANIMAL ESPÍRITA, contendo mais de 180 mensagens de mais de 100 obras espíritas clássicas.

O Veganismo é um ato político, cristão, espírita, que se esforça para na medida do possível e do praticável excluir todos os alimentos de origem animal, como carnes, ovos, leites e laticínios, além de se abster de consumir produtos de beleza e limpeza que tenham ingredientes ou foram testados em animais e dedicar-se à proteção, defesa e direitos animais, por exemplo pelo fim daquelas explorações de animais para entretenimento humano.

André Luiz na obra Conduta Espírita listou algumas atitudes da ética vegana aos espíritas, no âmbito da proteção animal:

Abster-se de perseguir e aprisionar, maltratar ou sacrificar animais domésticos ou selvagens, aves e peixes, a título de recreação, em excursões periódicas aos campos, lagos e rios, ou em competições obstinadas e sanguinolentas do desportismo. Há divertimentos que são verdadeiros delitos sob disfarce”
“No socorro aos animais doentes, usar os recursos terapêuticos possíveis, sem desprezar mesmo aqueles de natureza mediúnica que aplique a seu próprio favor.”
“Apoiar, quanto possível, os movimentos e as organizações de proteção aos animais, através de atos de generosidade cristã e humana compreensão”[5].

Já no âmbito da dieta, um conjunto de espíritos ensinaram que o consumo de animais facilita a obsessão, o vampirismo, o suicídio indireto e etc. Vejamos:

Disse André Luiz:

“GRANDE número de criaturas humanas deixa PREMATURAMENTE o plano terrestre pelos erros do estômago.” [6]

Disse Humberto de Campos:

“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo do porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros” [7].
“Quem devora os animais, incorporando-lhes as propriedades ao patrimônio orgânico, deve ser apetitosa presa dos seres que se animalizam” [8]

Disse Alexandre:

“Se temos sido vampiros insaciáveis dos seres frágeis que nos cercam, […] abusando de nosso poder racional ante a fraqueza da inteligência deles, não é demais que […] venha a cair à maioria das criaturas em situações enfermiças pelo vampirismo…” [4]

Disse Emmanuel:

“A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivam numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos” [9].

Vale frisar que é incoerente, por exemplo, que os Centros Espíritas ofereçam tratamentos espirituais e ao mesmo tempo vendam produtos de origem animal e não orientem os atendidos a adotar o vegetarianismo. Até porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras já afirmaram que o consumo de carnes processadas, como salsicha, linguiça, bacon e presunto, é um fator de risco certo para o câncer de intestino, e o consumo de carnes vermelhas é fator de risco provável. As carnes processadas foram classificadas no grupo 1 de carcinogênicos. Na mesma classificação estão tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel. Portanto, se o movimento espírita não incentiva e não comercializa tabaco, como oferecer alimentos no mesmo nível de riscos à saúde?

A psicosfera do planeta, saturada de eflúvios mórbidos, clama por esta mudança. E o Sublime Ecólogo, Jesus, segue enviando seus alertas e prepostos, incansavelmente, confiando na transformação moral humana e apoiando os mais singelos passos individuais e coletivos rumo a libertação animal, humana e não humana.

A pandemia do Covid19, que afeta todo o planeta com suas vidas multiformes, é apenas um dos tristes reflexos da criação e abate de animais e a destruição de seus habitats naturais.

Como nos disse Chico Xavier: “se continuarmos agredindo-a (Natureza) demasiadamente, o preço será pago por nós próprios, porque depois voltaremos em novas gerações, plantando árvores, acalentando sementes, modificando o curso dos rios, despoluindo as águas, drenando os pântanos e criando filtros que nos libertem da poluição. O problema será sempre do homem. Teremos que REFAZER TUDO, porque estamos agindo contra nós mesmos”. [10]

E o veganismo, que busca excluir todas as formas de exploração e crueldade contra animais seja para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito, é uma ética que contribui em muito para a libertação animal e evolução moral humana, para o Mundo de Regeneração.

Portanto, a par das variadas maneiras de se entender o veganismo, o MOVE se identifica com um veganismo acessível economicamente, popular, pois o Espiritismo recomenda uma vivência com o necessário ao invés do supérfluo. A falta de acesso econômico ao dito mercado vegano não é e não pode ser um impeditivo ao veganismo, sequer é uma necessidade para ser vegano.

Nos identificamos, também, com um veganismo que busca o fim da opressão tanto dos animais como dos humanos, até porque existe uma estreita associação de violência entre elas. O veganismo e o Espiritismo não excluem seres humanos da abrangência de seus princípios. A tarefa pelos animais não-humanos, humanos e meio ambiente são todas importantes para Deus. A Lei de Justiça, Amor e Caridade ensinada pelos Imortais não faz distinção de espécies.

Assim, por sermos espíritas consideramos que todos os seres vivos são o nosso próximo, não sendo possível pedir não-violência aos animais desrespeitando às pessoas e não trabalhando pela libertação delas também. Discursos de ódio contra pessoas não veganas e preconceitos e discriminações de toda ordem não fazem parte do Veganismo Espírita.

Portanto, que possamos nos engajar para este sublime despertar da consciência, assimilando nos espaços espíritas uma ética vegana à luz do Espiritismo, oferecendo um agir moral no mundo extensivo a toda a Natureza, superando o prejudicial modelo antropocêntrico e especista e servindo como instrumentos do Guia e Modelo, Jesus, cuja Governança Espiritual da Terra é para todos os seres, sem distinção de espécies.

Referências:

[1] KARDEC, A. A Gênese. 3 ed. Catanduva: INSTITUTO BENEFICENTE BOA NOVA, 2007. 347 p. Capítulo 7 “Esboço geológico da Terra”, item 32, pp. 127-128.

[2] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 93 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Questão 913.

[3] KARDEC, A. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Capítulo I – Caráter da revelação espírita > Item 55.

[4] XAVIER, F. C.; ANDRÉ LUIZ (Espírito). Missionários da Luz. 45 ed. 3 imp. Brasília: FEB, 2015. 382 p. Capítulo 4 “Vampirismo”, pp. 42-46, pelo benfeitor Alexandre.

[5] VIEIRA, W. ANDRÉ LUIZ (Espírito). Conduta espírita. 32 ed. 7 imp. Brasília: FEB, 2017. 118 p. Capítulo 33 “Perante os animais”, pp. 89-90.

[6] VIEIRA, W. ANDRÉ LUIZ (Espírito). Conduta espírita. 32 ed. 7 imp. Brasília: FEB, 2017. 118 p. Capítulo 34 “Perante o corpo”, pp. 91-92.

[7] XAVIER, F. C.; IRMÃO X (Espírito). Cartas e Crônicas. 14 ed. 3 imp. Brasília: FEB, 2015. 167 p. Capítulo 4 “Treino para a morte”, pp. 18.

[8] XAVIER, F. C.; IRMÃO X (Espírito). Contos e Apólogos. 14 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. 180 p. Capítulo 15 “O enigma da obsessão”, pp. 66-68.

[9] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 2 “Filosofia”, item 2.1. “Vida”, subitem 2.1.1. “Aprendizado”, questão 129, pp. 90-91.

[10] LEMOS, G.; Mandato de Amor. UEM, 1992. Cap. 14 “Entrevista (Chico Xavier) ao jornal Estado de Minas, pp. 431.