Card #71 – “À medida que o senso moral predomina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui, acaba mesmo por se apagar e se tornar odiosa: então, o homem tem horror ao sangue”

A pandemia e a emergência climática não deveriam ser motivos suficientes para que aceleremos o desenvolvimento do senso moral e paremos de destruir os animais, os ecossistemas e a vida humana?

Allan Kardec frisou pelos idos de 1860 que à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa essa necessidade. O homem ganha horror ao sangue.” [1]

Por mais quanto tempo a Terra suportará tamanho nível de destruição?

São antigas as mensagens divinas que rogam à humanidade que desenvolva uma convivência pacífica entre os seres humanos e não humanos. Porém, a realidade infelizmente mostra que ainda hoje permanecemos indiferentes a esses apelos e, além disto, também nos encontramos num período de colheita de séculos de menosprezo e violência contra a Natureza.

Recentemente, noticiou-se a polêmica liberação da caça de javalis em todo o território brasileiro. Animal considerado uma “praga”, mas que nada mais é do que uma vítima da ganância humana. Espécie exótica da nossa fauna, os javalis foram trazidos da Europa nos anos 1990 por criadores que desejavam lucrar com sua exploração e morte. A carne de javali não foi bem acolhida pelos brasileiros resultando em um “mau negócio”. A solução encontrada pelos criadores? Libertar esses animais na natureza. Sem predadores naturais, os javalis se reproduziram facilmente e com o passar dos anos, passaram a invadir plantações em busca de alimento, causando prejuízos aos produtores.

Os responsáveis por todo esse desastre moral seguem isentos de qualquer obrigação de reparação perante a justiça humana, e os pobres animais seguem pagando com a própria vida pelo “crime” de existirem.

Precisamos repensar as atividades humanas que submetam os animais sencientes e inocentes à prisão, dor e morte, por estar em desalinho com a Lei de Justiça, Amor e Caridade.

Ama, portanto, pelo caminho, quanto possas – plantas, animais, homens, e te descobrirás, por fim, superiormente, amando a Deus.” [2]

Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido a lei de Deus.” [3]

Essas duas rogativas, feitas pelos espíritos Joanna de Ângelis e S. Vicente de Paulo, respectivamente, esclarecem que é contraditório amar a Deus e destruir a Sua Criação.

A gravidade da crise ético-moral e ambiental ora vivenciada nos pede mudanças individuais e coletivas urgentes. Os Centros Espíritas deveriam assumir este dever sagrado de ser uma fonte de desenvolvimento do senso moral humano em relação aos animais e ecossistemas.

O potencial de colaboração que os milhares de Centros Espíritas possuem foge a nossa compreensão. Colocando esse tema na pauta do dia das atividades espíritas, desde a infância, certamente mudanças significativas a favor da vida animal ocorrerão.

Que os apelos desses benfeitores espirituais não permaneçam somente em páginas de livros, mas sim nas ações diárias do cidadão espírita.

Referências:

[1]  KARDEC, A. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Capítulo 3. Item 24, pp. 74.

[2]  FRANCO, D. P.; JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Leis Morais da Vida. 15 ed. Salvador: LEAL, 2014. 224 p. 2ª parte, cap. 1 “Amar a Deus”, pp. 18.

[3] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Questão 888-a (S. Vicente de Paulo), pp. 498.