Artigo #02: Alimentação vegetariana: cuidando do corpo e do espírito

Os benfeitores espirituais informaram que temos o dever de cuidar do corpo físico e que todos os recursos de que necessitamos se encontram no reino vegetal.
.
Em geral, quando os autores espíritas clássicos se referiam ao reino vegetal, eles incluíam todos os seres orgânicos, exceto os animais. Assim, para eles, não se tratavam apenas das plantas. É interessante esse entendimento, pois a vitamina B12 é produzida pelas bactérias, então, de fato, todos os elementos nutricionais encontram-se no reino vegetal, conforme os Espíritos. Contudo, para a Ciência atual, o reino vegetal abrange somente as plantas.
.
Além disso, esclareceram que a alimentação animal favorece o vampirismo, obsessão e as doenças físicas. Diante dessas informações, é sempre importante conhecermos os aspectos científicos da nutrição humana.
.

Dessa forma, convidamos a nutricionista Gabriela Pepe, colaboradora do MOVE, para conversar conosco sobre os benefícios de uma alimentação vegetariana (sem produtos de origem animal) tanto para o corpo físico como para a nossa alma.

Partindo de O Evangelho segundo o Espiritismo [1]: “… Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela.”.

De acordo com o nosso estágio evolutivo de Espíritos imperfeitos, temos a predominância da matéria sobre o espírito [2].

Quando cuidamos do nosso corpo físico, produzimos mais hormônios do prazer e com isso evoluímos, nos tornando pessoas mais bem humoradas e gentis. Práticas saudáveis como realizar exercícios físicos, consumir alimentos saudáveis, beber bastante água, ocupar nosso tempo com coisas úteis e sadias, como trabalhar, estudar e realizar atividades de lazer também sadias.

Um estudo [3] realizado com cerca de 12 mil pessoas relacionou o consumo de frutas e hortaliças com níveis de satisfação como estresse, vitalidade e outros indicadores da saúde mental. Os pesquisadores concluíram que comer cerca de 5 frutas e legumes ao dia faz a pessoa mais feliz. Este é um bom exemplo da importância de cuidarmos do nosso corpo para a saúde do nosso espírito.

Por outro lado, a origem das doenças pode ser fruto de nossas emoções desgovernadas [4]. Um dos aparelhos do nosso corpo que são logo afetados por sentimentos como estresse, raiva, mágoa é o aparelho digestório.

Quem é mais sensível, sente logo uma dor de barriga, azia, gases ou desenvolve algo mais grave como a gastrite emocional. Tem pessoas que tem seu ponto fraco em outros sistemas, como a pele, desenvolvendo espinhas e até furúnculos.

Enfim, uma série de problemas de saúde causados pela nossa própria imprevidência, muitas vezes.

É claro que, ao passarmos por problemas sérios, é normal ficar com o sistema imune fragilizado. Mas a nossa reação vai ser muito importante, até porque seremos muito mais úteis se não ficarmos doentes para buscar a solução de alguma dificuldade. Ou se a dificuldade for a própria doença, iremos contribuir para nossa recuperação.

Às vezes, ficamos mal por atitudes e comportamentos alheios. Nosso companheiro (a) nos deixou, não quer mais ficar conosco. O divórcio, por exemplo, é o segundo maior fator de tensão física e emocional na escala de Holmes e Rahe, só perdendo para a morte do cônjuge. Holmes e Rahe são dois cientistas que montaram uma tabela com pontuação para cada acontecimento da vida considerado estressante [5].

Mas como disse Chico Xavier: “Fico triste quando alguém me ofende, mas com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor… Magoar alguém é terrível!”.

E, mais à frente, conforme evoluirmos, nem precisaremos perdoar, porque não mais nos sentiremos ofendidos. Jesus nos dá este testemunho quando, no momento da cruz, disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!”, deixando claro para nós que Ele não estava ofendido conosco.

Já que precisamos cuidar igualmente do nosso corpo físico e espírito, trouxemos algumas reflexões sobre como a dieta vegetariana é indispensável quando pensamos no cuidado com o corpo, o instrumento que Deus nos deu para a nossa evolução espiritual.

Antes de tudo, precisamos esclarecer que existem algumas diferenças entre os tipos de dieta vegetariana:

A dieta ovolactovegetariana, em que não se consome nenhum tipo de carne, entendida como todo animal comestível por um povo. Mas se consome os alimentos derivados de animais, basicamente ovos, leite de animais mamíferos, laticínios e mel.

A dieta vegetariana pura ou estrita, em que não há o consumo de animais e nem os seus derivados.

Os veganos são pessoas que seguem a dieta vegetariana pura e que não utilizam produtos de origem animal ou testados em animais. O veganismo é uma filosofia de vida.

O respeito às escolhas alimentares de cada um é fundamental, assim como o respeito a nós próprios, aos nossos limites.

Há pessoas que afirmam que não conseguem ficar sem o consumo de carne. Mas será que é algo fisiológico? Nós vamos ver que não!

Mas a alimentação vai muito além do fisiológico.

O ato de se alimentar está muito relacionado com os nossos sentimentos e emoções, ao ambiente familiar e social, ao acesso ao alimento, não apenas financeiramente, mas também a disponibilidade física do alimento.

Se no seu trabalho ou perto você não tem uma lanchonete ou restaurante que tenha opção vegetariana, você vai ter que levar a sua refeição de casa. E nem sempre temos tempo de nos organizar para isso. Então, respeitar nossos limites é muito importante.

As empresas que vendem refeições precisam começar a pensar na inclusão de todos os grupos sociais, oferendo opções vegetarianas, opções sem glúten para quem tem alergia ao glúten (doença celíaca), opções sem açúcar para diabéticos. Para incluir socialmente todos esses grupos.

Com exceção da vitamina B12, a dieta vegetariana pura é completa nutricionalmente e contém até mais vitaminas e minerais que a dieta onívora, que é a dieta que inclui os animais e seus derivados. As vitaminas e minerais atuam como antioxidantes, prevenindo e auxiliando no tratamento de diversas doenças, inclusive as doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer em geral [6].

Em relação à vitamina B12, a dosagem através de exame de sangue deve ser feita em todas as pessoas, vegetarianas ou não, já que a incidência de pessoas com deficiência no Brasil é alta, cerca de metade da população. Uma dosagem de B12 saudável no sangue deve estar acima de 490 pg/mL [6].

Quem é vegetariano conhece a famosa pergunta: “E a proteína?” As fontes proteicas de origem vegetal são muito melhores, pois além da proteína, fornecem as fibras, que mantêm taxas saudáveis de colesterol e glicose no sangue.

E quais são as principais fontes de proteína vegetal? O grupo das leguminosas ou feijões que inclui a ervilha, lentilha e grão-de-bico. Só para se ter uma ideia, 7 colheres de sopa de feijão ou 5 colheres de sopa de grão-de-bico por dia já supre a necessidade proteica de um adulto que pesa 70 kg [6].

Outros nutrientes que temos recomendação diferenciada para vegetarianos são: ômega-3, ferro e zinco, de acordo com a Ingestão Diária de Referência. Porém, não existe respaldo científico para essa recomendação diferenciada entre onívoros e vegetarianos, já que não existem estudos populacionais que revelam uma maior prevalência de deficiência desses nutrientes em indivíduos vegetarianos [6].

A nossa dieta de forma geral não costuma fornecer a quantidade adequada de ômega-3. Então geralmente utilizamos alimentos que são boas fontes como semente de linhaça, chia ou óleo de linhaça. Uma colher de sopa da semente de linhaça ou chia ao dia, ou ainda 1 colher de chá de óleo de linhaça, e você consegue atingir a recomendação de ômega-3. Outra opção é utilizar o óleo de linhaça em cápsula.

Em relação ao ferro, o feijão tem muito mais ferro que qualquer carne (com exceção do fígado). Além disso, a biodisponibilidade do ferro presente nas carnes é baixa, ou seja, a quantidade de ferro que conseguimos absorver e utilizar.

Você pode melhorar ainda mais a biodisponibilidade do ferro da sua refeição, incluindo uma fruta rica em vitamina C na salada, suco ou sobremesa. Ou ainda utilizando uma hortaliça com alto teor de vitamina C, como pimentão, couve e brócolis. E quais são as frutas ricas em vitamina C? Temos a acerola, tangerina, mamão, kiwi, morango, carambola, laranja e limão [6].

A vitamina C também aumenta a absorção de zinco. Já o ácido fítico atrapalha a absorção do mineral. Para reduzir o teor de ácido fítico dos feijões, tem uma dica simples: antes de preparar o feijão, deixar de molho em água à temperatura ambiente por cerca de 8 a 12 horas. E depois descartar a água do molho para então começar o preparo [6].

Outro mineral é o cálcio, que apesar de não ter recomendação diferenciada, muitas pessoas acreditam que o leite de vaca e os laticínios sejam fundamentais para suprir essa necessidade. Na realidade, o consumo de leite de vaca está relacionado a maiores prevalências de doenças ósseas, como a osteoporose [7].

Temos opções veganas como os leites vegetais enriquecidos com cálcio (de arroz, de aveia, de castanha de caju, de amêndoa, de côco, etc.) e temos queijos veganos enriquecidos. Além disso, encontramos o cálcio em feijões, amêndoas, castanha-do-pará, gergelim e algumas hortaliças, como rúcula, agrião, couve, almeirão e brócolis.

E para concluir, trouxe um trecho do livro “As hortaliças na medicina doméstica”, do professor Alfons Balbach [8]:

“Os irracionais que comem carne, preferem-na ao natural. Não a falsificam nem a disfarçam para mudar-lhe o gosto e o cheiro. O ser humano, porém, altera e dissimula a carne com temperos, para neutralizar a repugnância que esta produziria à sua vista, ao seu olfato e ao seu sabor. O homem engana seu verdadeiro instinto com grave prejuízo de sua saúde.”.

Referências:

[1] KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII “Sede perfeitos – Cuidar do corpo e do espírito”, item 11. Mensagem do Espírito Georges, 1863.
[2] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, questão 100.
[3] REDZOC, M.; ANDREW, J. O. Evolution of Well-Being and Happiness After Increases in Consumption of Fruit and Vegetables. American Journal of Public Health, 2016.
[4] FRANCO, D. P.; JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Autodescobrimento. Ed. LEAL.
[5] PENA, L.; REIS, D. Student Stress and Quality of Education. Revista de Administração de Empresas, vol. 37 número 4 Out./Dez. 1997.
[6] Sociedade Vegetariana Brasileira. Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas para adultos. São Paulo, 2012.
[7] CORASSA, E. Revolução vegana. Editora Saúde Frugal, 2014.
[8] BALBACH, A. “As hortaliças na medicina doméstica”. Editora EDEL.

1 responder

Trackbacks & Pingbacks

  1. […] Alimentação vegetariana: cuidando do corpo e do espírito […]

Deixe uma resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *