Card #15: O que te MOVE?

…Somos movidos também pelas águas e toda a vida marinha.

Afinal, você sabia que os peixes são seres sencientes, experimentam sentimentos como dor, medo e outros?

Sabia que cerca de 70% da superfície do nosso planeta é composta por água?

E como estamos tratando os peixes e os oceanos?

A simples contemplação do mar gera um sentimento de paz e de bem-estar, como se estivéssemos rememorando algo íntimo e primitivo do qual há muito somos parte, mas que havíamos esquecido. Um verdadeiro sentimento de nostalgia ao contato com os mares, lagos e rios que cruzam o planeta azul.

Esse contato talvez faça ressurgir em nós uma memória dos primórdios de nosso estágio evolutivo, onde segundo a ciência e a Doutrina Espírita a vida teria começado nos oceanos. Disse Emmanuel:

“Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra. Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.” [1]

Via de regra, quando pensamos nos oceanos raramente buscamos o sentimento de irmandade para com todos os trilhões de seres que ali habitam. Na maioria das vezes, afetados pela lógica antropocêntrica e especista, pensamos apenas nos benefícios que podemos extrair da imensidão de águas, que em nosso orgulho cremos terem sido minuciosamente planejadas e povoadas apenas para o benefício humano.

A poluição de lagos, mares e rios atingiu patamares exorbitantes.

Os oceanos estão repletos do que os cientistas denominaram “zonas mortas”, pois em grandes áreas a vida marinha praticamente não existe mais! [2]

Mudanças no PH, temperatura e composição da água devido a poluição humana tem causado extinção em massa de espécies marinhas. E cada espécie que se extingue impacta diretamente na sobrevivência de outras, com graves prejuízos na cadeia alimentar.

A poluição dos oceanos está também intrinsecamente relacionada à pecuária, pois grande parte da produção de grãos é direcionada a alimentação dos animais criados nas fazendas. Para suprir a demanda alimentar de mais 70 bilhões de animais terrestres mortos anualmente para consumo humano, utiliza-se inúmeros agrotóxicos nas vastas monoculturas de grãos, que contaminam os lençóis freáticos e rios, desaguando nos oceanos. [3]

Todos esses agrotóxicos que chegaram aos oceanos, por anos e anos, criaram alterações na composição das águas que já beiram um ponto irreversível.

Parece roteiro de filme de horror, mas infelizmente não é. Os bovinos que são animais herbívoros consomem farelo de peixe que é misturado na ração. A ganância por lucro criou mais essa abominação para satisfazer o paladar humano, mas não o corpo, pois nosso organismo não necessita de absolutamente nada de origem animal. [4]

A piscicultura consiste em criar peixes em tanques, em condições extremamente torturantes para esses seres que nascem e morrem, abarrotados, onde sequer podem nadar livremente, tamanha a quantidade de peixes nos tanques. [5]

A evolução tecnológica permitiu que a humanidade literalmente pescasse todos os peixes de diversas regiões do oceano. Essa mesma conquista tecnológica deveria, ao contrário, libertar a humanidade pouco a pouco de tal vício, tão cruel a vida marinha.

Estudos demonstram que estamos retirando mais peixes do que a capacidade de se reproduzirem. Que se nenhuma medida for tomada, até 2050 não existirá mais peixes no oceano. Ao menos, não na quantidade da qual o ser humano em seu apetite voraz deseja retirar.

O consumo de peixes e demais seres aquáticos possui graves implicações ético-ambientais, tais como a extinção de espécies e o sofrimento em si ao qual cerca de 1,5 trilhão de animais sofrem todos os anos em pescas industriais com as chamadas redes de arrasto que retiram indiscriminadamente qualquer espécie, onde os animais são encurralados e capturados em redes gigantescas com vários quilômetros de extensão. Muitos morrem esmagados entre os demais, e os que sobrevivem, encontram uma morte lenta e agonizante fora da água. [6]

Em relação ao sofrimento dos peixes, a ciência hoje demonstra que são seres extremamente complexos, com apurado desenvolvimento social, e dotados das mesmas capacidades que nós seres humanos temos em sentir dor, medo, alegria, desejo de liberdade, etc. [7]

Diz a investigação científica: “Os peixes constroem ninhos complexos, formam relações monogâmicas, caçam de modo cooperativo com outras espécies e usam ferramentas. Reconhecem-se uns aos outros como indivíduos (e mantem um registro de quem merece confiança e quem não merece). Tomam decisões individualmente, monitoram o prestígio social e competem por melhores posições (usam estratégias maquiavélicas de manipulação, punição e reconciliação). Têm significativa memória de longo prazo, habilidade para transmitir conhecimento uns aos outros e também podem passar informações de geração a geração. Têm, até mesmo, o que a literatura científica chama de tradições culturais duradouras para caminhos específicos até locais de alimentação, instrução, descanso ou acasalamento”. [8]

Ainda confundimos ausência de expressão facial nos peixes com ausência de dor.

Em O Livro dos Espíritos, temos a seguinte afirmação hoje comprovada: “Pensais que os peixes não se entendem entre si?” [9]

E Allan Kardec complementa a questão: “Com efeito, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas que obedecem ao guia que os conduz, devem ter meios de se advertir, de se entender e de se combinar. Talvez o façam entre si, ou talvez a água sirva como veículo de transmissão de certas vibrações. Seja qual for, é incontestável que eles possuem meios para se entenderem, da mesma forma como os animais privados da voz, que realizam trabalhos em comum…” [9]

É por isso que o primeiro biógrafo de Francisco de Assis narrou a sua afeição pelos peixes: “se lhe era possível, devolvia à água, vivos, os peixes capturados, e recomendava-lhes que não se deixassem apanhar de novo”. Mesmo quando no lago de Rieti recebeu uma tainha de um amigo, “pegou o Santo na tainha e, cheio de alegria e ternura, saudou-a por irmã. Em seguida, restituiu-a às águas do lago”. [10]

Assim sendo, podemos e devemos repensar a nossa relação com os mares, lagos e rios e os seres que neles habitam, promovendo mudanças em nosso consumo, deixando de contribuir gradativamente com o sofrimento de trilhões de seres aquáticos que são mortos todos os anos para a satisfação gustativa de apenas uma única espécie.

Precisamos nos mover em direção a uma alimentação mais compassiva, incluindo além dos animais terrestres, os animais aquáticos que igualmente esperam do ser humano atitudes dignas de um irmão mais velho que ampara, acolhe e jamais agride, a exemplo de Jesus que sendo o irmão mais velho de todos os seres do planeta, trabalha incessantemente pelo bem de todos.

É sempre tempo de recomeçar.

Que tal se MOVEr hoje?

Referências:

[1] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). A Caminho da Luz. 38 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013.

[2] https://veja.abril.com.br/mundo/oceanos-perdem-oxigenio-e-tem-700-zonas-mortas/

[3] https://www.marchapelosoceanos.org/blog/agropecu%C3%A1ria-e-seu-impacto-nos-oceanos

[4]https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/LeiteZonadaMataAtlantica/alimentacao3.html

[5] https://www.greenme.com.br/informarse/animais/7208-peixes-sufocados-espancados-lado-negro-piscicultura/

[6]https://marsemfim.com.br/pesca-de-arrasto-destruicao-do-habitat/

[7] http://www.mimiveg.com.br/peixes-sentem-emocao-e-dor/

[8] Foer, Jonathan Safran Comer animais 2011

[9] Kardec, Allan O Livro dos Espíritos questão 594 ide editora 2011

[10] FONTES FRANCISCANAS. São Paulo: Editora Mensageiro de Santo Antônio, 2005. 1 Celano. Item 61 – Como devolvia os peixes vivos ao lago.

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