Veganismo

Ética Animal e Veganismo são pilares do MOVE, que a nosso entender alinham-se com o Espiritismo.

Entendemos que esses pilares, debatidos com mais intensidade recentemente na sociedade, devem ser integrados na educação do cidadão espírita.

Em nosso artigo chamado “Veganismo sob a ótica do tríplice aspecto do Espiritismo” debatemos como o Veganismo se estrutura nos aspectos ciência, filosofia e moral, fontes que segundo Allan Kardec seriam bases fundamentais do Espiritismo. A superação do egoísmo e do orgulho, por exemplo, que dá sustento a organização social antropocêntrica e especista, é base do veganismo e do espiritismo.

Sobre o egoísmo e o orgulho, Allan Kardec e os espíritos, disseram:

“O orgulho levou o homem a dizer que todos os animais foram criados por sua causa e para satisfação de suas necessidades” [1].

Do egoísmo “deriva todo o mal”. “Incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades” [2].

O sistema antropocêntrica-especista que se alastrou pelo mundo não é de determinação divina, mas sim desse vícios morais organizados socialmente, que ceifam a vida de inumeráveis indivíduos animais para consumos diversos, muitos banais e desnecessários.

Quem determina que nosso paladar é mais importante do que o interesse do animal de viver é o egoísmo. Quem determina que somos melhores do que os animais é o orgulho, ambos organizados pelos sistemas sociais de exploração que definem em grande medida as escolhas pessoais. Nunca foi Deus!

Aprendemos com Allan Kardec que o Espiritismo é, assim como a ciência, progressivo (não-dogmático) e apoia-se em fatos para a assimilação das novas descobertas, como é o caso da ética animal e do veganismo, que não deveriam mais ficar de fora da educação espírita. Vejamos o que disse o Codificador:

“[…] apoiando-se em fatos, [o espiritismo] tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que formaram de Deus.
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. […] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia […].
Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.” [3]

Dessa forma, assimilar a ética vegana nos espaços espíritas é questão de coerência, sobretudo neste tempo em que a ciência já constatou os graves malefícios da “indústria da morte” [4] para as pessoas, os animas e o meio ambiente. Aliás, o próprio conjunto literário do espiritismo apontou nessa direção, como consta em nosso CATÁLOGO DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA ÉTICA ANIMAL ESPÍRITA, contendo mais de 200 mensagens de mais de 100 obras espíritas.

O veganismo que acreditamos é um movimento político, que se esforça para superar a opressão animal em âmbito individual e coletivo, tanto para ajudar as pessoas a deixar de consumir animais como no engajamento pela mudança do capitalismo, que organiza a exploração dos animais, das pessoas e do meio ambiente.

André Luiz na obra Conduta Espírita listou algumas atitudes da ética vegana aos espíritas, no âmbito da proteção animal:

Abster-se de perseguir e aprisionar, maltratar ou sacrificar animais domésticos ou selvagens, aves e peixes, a título de recreação, em excursões periódicas aos campos, lagos e rios, ou em competições obstinadas e sanguinolentas do desportismo. Há divertimentos que são verdadeiros delitos sob disfarce”
“No socorro aos animais doentes, usar os recursos terapêuticos possíveis, sem desprezar mesmo aqueles de natureza mediúnica que aplique a seu próprio favor.”
“Apoiar, quanto possível, os movimentos e as organizações de proteção aos animais, através de atos de generosidade cristã e humana compreensão” [5].

Já no âmbito da dieta, um conjunto de espíritos ensinaram que o consumo de animais facilita a obsessão, o vampirismo, o suicídio indiretoetc. Vejamos:

Disse André Luiz:

“GRANDE número de criaturas humanas deixa PREMATURAMENTE o plano terrestre pelos erros do estômago.” [6]

Disse Humberto de Campos:

“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição.” [7].
“Quem devora os animais, incorporando-lhes as propriedades ao patrimônio orgânico, deve ser apetitosa presa dos seres que se animalizam” [8]

Disse Alexandre:

“Se temos sido vampiros insaciáveis dos seres frágeis que nos cercam, […] abusando de nosso poder racional ante a fraqueza da inteligência deles, não é demais que […] venha a cair à maioria das criaturas em situações enfermiças pelo vampirismo…” [4]

Disse Emmanuel:

“A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivam numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos” [9].

Vale frisar que é incoerente, por exemplo, que os Centros Espíritas ofereçam tratamentos espirituais e ao mesmo tempo vendam produtos de origem animal e não orientem os atendidos a adotar o vegetarianismo. Até porque a IARC, Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outras, já afirmaram que o consumo de carnes processadas, como salsicha, linguiça, bacon e presunto, é um fator de risco certo para o câncer de intestino, e o consumo de carnes vermelhas é fator de risco provável. As carnes processadas foram classificadas no grupo 1 de carcinogênicos. Na mesma classificação estão tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel. Portanto, se o movimento espírita não incentiva e não comercializa tabaco, como oferecer alimentos no mesmo nível de riscos à saúde?

Aliás, ressalvadas as questões socioeconomicas, todas as pessoas podem ser veganas. A Academia de Nutrição e Dietética (a maior associação de nutricionistas e peritos em dietética de todo o mundo) e muitas outras reconhecem que uma dieta vegana (vegetariana pura) é saudável em todas as faixas etárias e ainda previne doenças.

Vejamos alguns pareceres que resumem os estudos realizados:

Academia Americana de Nutrição e Dietética:
É a posição da Academia de Nutrição e Dietética que dietas vegetarianas adequadamente planejadas, incluindo veganas, são saudáveis, nutricionalmente adequadas e podem fornecer benefícios à saúde na prevenção e tratamento de certas doenças. Essas dietas são apropriadas para todas as etapas do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância, adolescência, idade adulta e para atletas.

Nutricionistas do Canadá:
Uma dieta vegana bem planejada pode atender a todas essas necessidades. É seguro e saudável para mulheres grávidas e amamentando, bebês, crianças, adolescentes e idosos.

Serviço Nacional de Saúde Britânico:
Com um bom planejamento e uma compreensão do que constitui uma dieta vegana saudável e equilibrada, você pode obter todos os nutrientes que seu corpo precisa.F

Direção Geral de Saúde Portuguesa:
A evidência aponta não só para a importância do consumo regular de produtos de origem vegetal, como para o facto de uma alimentação exclusivamente baseada nestes produtos ser igualmente ou até mais protetora da saúde humana. Por outro lado, sabemos hoje que uma alimentação exclusivamente vegetariana, quando bem planeada, pode preencher todas as necessidades nutricionais de um ser humano e pode ser adaptada a todas as fases do ciclo de vida, incluindo a gravidez, lactação, infância, adolescência e em idosos ou até atletas.

Clínica Mayo:
Uma dieta vegetariana bem planejada (consulte o contexto) pode atender às necessidades de pessoas de todas as idades, incluindo crianças, adolescentes e mulheres grávidas ou que estejam amamentando. A chave é estar ciente de suas necessidades nutricionais, para que você planeje uma dieta que as atenda.

Fundação Heart and Stroke do Canadá:
Dietas vegetarianas (consulte o contexto) podem fornecer todos os nutrientes que você precisa em qualquer idade, bem como alguns benefícios adicionais para a saúde.

Faculdade de Medicina de Harvard:
Tradicionalmente, a pesquisa sobre vegetarianismo concentrava-se principalmente em possíveis deficiências nutricionais, mas nos últimos anos o pêndulo mudou para outro lado, e estudos estão confirmando os benefícios para a saúde da alimentação sem carne. Atualmente, a alimentação baseada em vegetais é reconhecida não apenas como nutricionalmente suficiente, mas também como uma maneira de reduzir o risco de muitas doenças crônicas.

A pandemia do Covid19, é apenas um dos tristes reflexos da criação e abate de animais e a destruição de seus habitats naturais organizada pelo modo capitalista de estar no mundo.

Como nos disse Chico Xavier: “se continuarmos agredindo-a (Natureza) demasiadamente, o preço será pago por nós próprios, porque depois voltaremos em novas gerações, plantando árvores, acalentando sementes, modificando o curso dos rios, despoluindo as águas, drenando os pântanos e criando filtros que nos libertem da poluição. O problema será sempre do homem. Teremos que REFAZER TUDO, porque estamos agindo contra nós mesmos”. [10]

E o veganismo, que busca excluir todas as formas de exploração e opressão contra animais seja para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito, é uma ética e política que contribui para a libertação animal e a evolução humana.

Portanto, dentre as variadas maneiras de se entender o veganismo, o MOVE se identifica com o veganismo popular, que luta por um sistema alimentar sem veneno e acessível economicamente a tod@s, independente da classe social. O dito mercado vegano, com produtos “veganos” caros produzidos por grandes corporações internacionais, não é uma necessidade para ser vegano. Acreditamos no poder da educação e da transformação social para que as pessoas conheçam a desnecessidade de consumir animais e dependam o menos possível do mercado.

Nos identificamos com um veganismo que busca o fim da opressão tanto dos animais como dos humanos, até porque tais violências estão interconectadas. O veganismo e o Espiritismo não excluem seres humanos da abrangência de seus princípios. A tarefa pelos animais não-humanos, humanos e meio ambiente são uma só. A Lei de Justiça, Amor e Caridade ensinada por Allan Kardec não discrimina espécies.

Assim, por sermos espíritas consideramos que todos os seres vivos são o nosso próximo, não sendo possível pedir não-violência aos animais desrespeitando as pessoas. Discursos de ódio, preconceitos e discriminações não deveriam fazer parte do Veganismo.

Portanto, que possamos nos engajar para esta transformação social, inserindo o veganismo nos espaços espíritas, oferecendo um agir moral no mundo extensivo a toda a Natureza, superando o prejudicial modelo antropocêntrico e especista, sem discriminação de espécies.

Referências:

[1] KARDEC, A. A Gênese. 3 ed. Catanduva: INSTITUTO BENEFICENTE BOA NOVA, 2007. 347 p. Capítulo 7 “Esboço geológico da Terra”, item 32, pp. 127-128.

[2] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 93 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Questão 913.

[3] KARDEC, A. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Capítulo I – Caráter da revelação espírita > Item 55.

[4] XAVIER, F. C.; ANDRÉ LUIZ (Espírito). Missionários da Luz. 45 ed. 3 imp. Brasília: FEB, 2015. 382 p. Capítulo 4 “Vampirismo”, pp. 42-46, pelo benfeitor Alexandre.

[5] VIEIRA, W. ANDRÉ LUIZ (Espírito). Conduta espírita. 32 ed. 7 imp. Brasília: FEB, 2017. 118 p. Capítulo 33 “Perante os animais”, pp. 89-90.

[6] VIEIRA, W. ANDRÉ LUIZ (Espírito). Conduta espírita. 32 ed. 7 imp. Brasília: FEB, 2017. 118 p. Capítulo 34 “Perante o corpo”, pp. 91-92.

[7] XAVIER, F. C.; IRMÃO X (Espírito). Cartas e Crônicas. 14 ed. 3 imp. Brasília: FEB, 2015. 167 p. Capítulo 4 “Treino para a morte”, pp. 18.

[8] XAVIER, F. C.; IRMÃO X (Espírito). Contos e Apólogos. 14 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. 180 p. Capítulo 15 “O enigma da obsessão”, pp. 66-68.

[9] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 2 “Filosofia”, item 2.1. “Vida”, subitem 2.1.1. “Aprendizado”, questão 129, pp. 90-91.

[10] LEMOS, G.; Mandato de Amor. UEM, 1992. Cap. 14 “Entrevista (Chico Xavier) ao jornal Estado de Minas, pp. 431.

5 respostas
  1. Sandra
    Sandra says:

    Vegetariana há quarenta anos, sem muitos grilos na cuca quanto à seleção detalhada e metódica dos alimentos. A não ser o controle com a reposição da vit. B 12, o que compro para o consumo alimentar é o mais simples possível e o mais economicamente acessível, porém nada deixando a desejar nos quesitos variedade de sabores, texturas e valor nutricional. Tudo flui espontâneo, desde o preparo dos alimentos em receitas descomplicadas, sem excesso de temperos e condimentos até o reconhecimento, no prato, de que alimentar-se não deve incluir morte de qualquer espécie animal no cardápio se quem se alimenta deseja merecer, para usufruir, saúde e vida. Lamentável que, em pleno século 21 e ansiando por um Mundo de Regeneração, a maioria dos espíritas se tenha acomodado na sua zona de conforto indigesta e inacessível aos gritos de socorro dos irmãos de Francisco, longe dos olhos e do coração da Caridade que Deus espera deles, seja feita, mas nao fazem.

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