Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho (NEPE) do MOVE

O que é o NEPE?

O Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho (NEPE) surgiu em 2013 a partir de uma iniciativa da Federação Espírita Brasileira (FEB). Fundamentalmente, a proposta do NEPE é realizar um estudo minucioso do Evangelho à luz do Espiritismo.

Ao longo do tempo, alguns desenvolvedores do NEPE articularam o NEPE Brasil (http://www.nepebrasil.org/home), uma rede de mais de 50 NEPEs espalhados pelo Brasil. Em seu site, é possível ter acesso à metodologia do NEPE, aos materiais de estudo disponibilizados pelos NEPEs e a uma excelente ferramenta de pesquisa que permite acesso a referências de obras espíritas que comentam passagens do Novo Testamento.

Desde antes da fundação do MOVE (2017), alguns de seus membros participam do NEPE colaborando para a sua difusão nas diversas regiões e centros espíritas, bem como no NEPE Brasil.

A partir da fundação do MOVE, vem sendo realizada uma série de estudos do Evangelho a favor dos animais e do meio ambiente, por meio de escritos, palestras, lives, atividades infanto-juvenis etc., experiência esta que tem desvelado uma dimensão ecológica do Evangelho.

Assim, unindo as experiências e metodologias do NEPE e do MOVE, é que nasceu o NEPE MOVE, com o objetivo de apresentar estudos que ressaltem que o Evangelho além de ser pelas pessoas, é também pelos animais e por toda a Natureza.

Pode parecer estranho, dada a cultura antropocêntrica que ainda predomina em nosso mundo, mas, em sua essência espiritualíssima e à luz do Espiritismo, existe um EVANGELHO ECOLÓGICO, que merece ser salientado, ainda mais neste tempo de crise socioambiental. Isso porque, segundo o Espiritismo, Jesus além de ser o Guia e Modelo da humanidade [1], é também o Divino Escultor e Governador Espiritual da Terra, tendo criado o indispensável à existência de todos os seres [2]. Portanto, Seu significado de Família se estende ao infinito, independente da espécie em que o ser espiritual estagia, seja humana ou não-humana. Nesse sentido, não se pode descolar os ensinos evangélicos de sua dimensão ecológica e ética, com vistas à harmonia entre todos os seres que coevoluem e coabitam em nossa Mãe Terra.

Outro fundamento importante vem de Joanna de Ângelis que, após detalhar a crise socioambiental moderna no seu nível material e espiritual, caracterizou Jesus como o SUBLIME ECÓLOGO e afirmou que a solução para a superação da crise está no Seu Evangelho, cujo método se encontra nos seus exemplos e ensinos, discursos e parábolas. Vejamos:

“O programa, no entanto, para o saneamento de tão perigoso estado de coisas, já foi apresentado por Jesus, o Sublime Ecólogo que, em a Natureza, preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e técnicas da felicidade, da sobrevivência ditosa nos incomparáveis discursos e realizações de que inundou a História, estabelecendo as bases para o reino de amor e harmonia, sem fim, sem dores, sem apreensões…” [3].

Portanto, se faz necessário, à luz do Espiritismo, desenvolver uma percepção e metodologia de estudo do Evangelho que direcione o olhar do estudioso, também, em favor dos animais e do meio ambiente, numa perspectiva não-antropocêntrica e antiespecista.

Apresentamos a seguir as bases fundamentais e a metodologia do NEPE MOVE.

REFERÊNCIAS FUNDAMENTAIS

Além das obras fundamentais do Espiritismo, de Allan Kardec, até as mais atuais, de escritores e médiuns contemporâneos, sugerimos em especial algumas fontes:

-CATÁLOGO DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA ÉTICA ANIMAL ESPÍRITA. Trata-se de uma contínua revisão bibliográfica da literatura espírita clássica sobre os animais e os nossos deveres para com eles e a Natureza. Foram encontrados, até o momento, mais de 200 trechos, destacados em mais de 100 obras espíritas consagradas. Esse compilado de ensinamentos dos Espíritos (muitos decorrentes da interpretação do Evangelho) demonstra, claramente, um chamamento de Jesus para que os seres humanos incluam os animais e a Natureza em suas ações morais, desde a renovação de hábitos alimentares para uma dieta vegetariana, até o apoio aos movimentos de proteção e defesa dos animais e da Natureza, inclusive com a utilização dos recursos terapêuticos espíritas – incluídos os de natureza mediúnica – no socorro aos animais, por exemplo. Os Benfeitores até mesmo nos pediram que aprendamos a Lei de Deus pela contemplação da Natureza, que, segundo Emmanuel, “é onde a Inteligência Divina se manifesta” [4].

-BIBLIOTECA DO NEPE BRASIL:  No site do NEPE Brasil existe uma sugestão de acervo bibliográfico básico para a pesquisa do Evangelho. Trata-se de um conjunto de obras que ensinam os aspectos linguísticos, textuais, contextuais, históricos, sociais etc., que fornecem informações importantes para melhor compreender o texto e o contexto bíblico.

-O EVANGELHO REDIVIVO: No site da FEB é possível acessar inúmeros conteúdos do programa O Evangelho Redivivo  (https://www.febnet.org.br/portal/2020/05/05/evangelho-redivivo/), que tem como finalidade estudar os 27 livros que se encontram codificados no Novo Testamento. 

-SABERES ECOLÓGICOS: Faz-se necessário consultar estudos científicos, filosóficos e religiosos que esclareçam sobre as funções ecossistêmicas dos organismos não-humanos e também os impactos ambientais causados pela atividade humana. Muitos sites e redes sociais disponibilizam tais conteúdos. 

OBJETIVOS:

Assim sendo, são objetivos do NEPE MOVE:

  • 1) Estudar o Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita; 
  • 2) Aprender a perceber o seu sentido ecológico, em favor das pessoas, dos animais e toda a Natureza; 
  • 3) Esforçar-se para vivenciar a moral evangélica numa perspectiva não-antropocêntrica, não apenas estudá-la.
  • 4) Subsidiar estudos do Evangelho de Jesus à luz do Espiritismo, com materiais didáticos produzidos pelo núcleo, que estabeleçam conexão entre as referências doutrinárias, científicas, filosóficas e religiosas.

METODOLOGIA

A seguir, apresentaremos a metodologia do NEPE e a do MOVE, para depois, unindo-as, apresentar uma nova metodologia que favoreça a percepção da dimensão ecológica do Evangelho. Ao final, daremos exemplos, para facilitar o entendimento da proposta.

METODOLOGIA DO NEPE: A metodologia do NEPE compõe-se, basicamente, de três passos, dos quais destacamos dois:

1. Estudar um versículo ou conjunto de versículos (perícope), considerando o significado exato de cada palavra, identificando lugares, ocasiões, circunstâncias, personagens, profissões e cargos, expressões e hábitos vigentes à época de Jesus. 

2. Buscar, cuidadosamente, o conteúdo espiritual do texto lido, esforçando-se por retirar o espírito da letra. Para isso, recomenda-se utilizar dicionários e atlas bíblicos, comentários e referências da literatura interpretativa.

Sugerimos o uso da Ferramenta de Pesquisa Bibliográfica disponível no site do NEPE BRASIL (http://www.nepebrasil.org/pesquisando-o-evangelho) para localizar os comentários dos Espíritos sobre o texto evangélico em estudo, bem como os Materiais de Estudos compilados por ordem temática do Novo Testamento, oriundos dos estudos dos vários NEPEs (http://www.nepebrasil.org/luz-imperecivel).

METODOLOGIA DO MOVE: Consiste no estudo da moral de Jesus à luz da Ética Animal Espírita (EAE), conceito desenvolvido com base nas obras espíritas consagradas, que resumidamente significa uma conduta moral que inclui, no esforço de vivenciar a lei de Deus, não somente o bem dos seres humanos, mas também dos não-humanos. No estudo evangélico, esse olhar conduz à percepção da dimensão ecológica do texto e a uma ética não-antropocêntrica que oriente o humano a se relacionar com Justiça, Amor e Caridade para com os demais seres.

METODOLOGIA DO NEPE MOVE: Nesse sentido, seguem-se os mesmos passos 1 e 2 da Metodologia do NEPE, todavia, no passo 1, é preciso atender à dimensão ecológica do texto, explicando o significado dos elementos não-humanos com base nos conhecimentos daquela época e de hoje e os danos ambientais; no passo 2, que busca o conteúdo espiritual, deve-se orientar o humano a se tornar um cuidador do mundo natural, a libertar-se do mal de desrespeitar os animais e ecossistemas, valendo-se dos conteúdos espíritas, numa perspectiva não-antropocêntrica, de ética animal espírita.  

EXEMPLOS:

Na parábola da figueira, deve-se explicar as funções ecossistêmicas fundamentais da árvore, fundamentais à vida, bem como a problemática moderna do desmatamento. Além disso, se faz necessário ressaltar o valor intrínseco e divino da árvore, que independe dos benefícios aos seres humanos. O espírito humano, nesse sentido, se educaria ecologicamente e espiritualmente no respeito à Natureza.

A resposta de Emmanuel à questão 77 do livro O Consolador, por exemplo, seria uma fonte importante para os textos evangélicos envolvendo o reino vegetal, quando o Benfeitor respondeu a seguinte pergunta: “os Espíritos se preocupam com a Botânica?”, ele foi categórico: 

“[…] Esse departamento da Natureza, campo de evolução como os outros, recebe igualmente o sagrado influxo do Senhor, através da assistência de seus mensageiros, desde os pródromos da organização planetária. Recordai-vos de que o homem é discípulo numa escola que o seu raciocínio já encontrou organizada pela sabedoria divina e, em nome Daquele que é a origem sagrada de nossas vidas, amai as árvores e tende cuidado com o campo, onde florescem as bênçãos do céu” [5].

Em suma, a metodologia do NEPE MOVE é muito simples e cabe praticamente em todos os textos evangélicos, dispensando interpretações mirabolantes e anacronismos, pois, se a lição de Jesus trata da caridade, que essa caridade seja estendida, também, aos animais e ao meio ambiente.

Apresentamos, a seguir, mais dois exemplos interpretativos à luz da EAE, que auxilia na busca do conteúdo espiritual do texto para se retirar o espírito da letra e orientar o Ser a uma ética não-antropocêntrica, valendo-se daqueles textos evangélicos que costumam ser muito utilizados para justificar a exploração e consumo moderno de animais.

MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES E PEIXES (Mateus 14:13-21):

“[…] Chegado o fim da tarde, os seus discípulos aproximaram-se dele, dizendo: O lugar é ermo e a hora já está adiantada; despede as turbas, para que voltem para suas aldeias e comprem alimentos para si mesmos. Jesus, porém, lhes disse: Não é necessário irem embora. Dai-lhes de comer, vós mesmos. Então, eles lhe dizem: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes. Ele disse: Trazei-os aqui. Após ordenar que as turbas se reclinassem sobre a relva, tomou os cinco pães e dois peixes, olhou para ao céu, abençoou, partiu os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às turbas. Todos comeram e saciaram-se; e levaram o que sobrava dos pedaços, doze cestos de vime cheios. E os que comeram foram cerca de cinco mil homens, fora mulheres e crianças.”

A ocasião é peculiar, pois se trata da sobrevivência de uma multidão de mais de cinco mil pessoas, incluindo crianças, idosos, doentes, todos famintos, e em lugar desértico, já no fim da tarde. Nota-se que Jesus não seria indiferente à necessidade daquelas pessoas que O seguiam, ouvindo o Seu chamado. Nesse sentido, é oportuno perguntar: entre as inúmeras alternativas que um Cristo Planetário teria para alimentar tal turba, escolheria o peixe, um ser senciente que tanto sofre na dolorosa morte por asfixia?

A ciência, hoje, demonstra que os peixes são seres extremamente complexos, com apurado desenvolvimento social e dotados das mesmas capacidades que nós seres humanos temos de sentir dor, medo, alegria, desejo de liberdade etc. Diz a investigação científica: 

“Os peixes constroem ninhos complexos, formam relações monogâmicas, caçam de modo cooperativo com outras espécies e usam ferramentas. Reconhecem-se uns aos outros como indivíduos (e mantêm um registro de quem merece confiança e quem não merece). Tomam decisões individualmente, monitoram o prestígio social e competem por melhores posições (usam estratégias maquiavélicas de manipulação, punição e reconciliação). Têm significativa memória de longo prazo, habilidade para transmitir conhecimento uns aos outros e também podem passar informações de geração a geração. Têm, até mesmo, o que a literatura científica chama de tradições culturais duradouras para caminhos específicos até locais de alimentação, instrução, descanso ou acasalamento” [6].

Ora, quem melhor para saber disso do que Aquele que criou/moldou a Terra e supervisionou os aspectos genéticos e evolutivos das gerações de seres, no transcurso de milhões de anos?

Não podemos deixar também de recordar o Irmão da Natureza, o amado Francisco de Assis, e sua relação com os peixes. Registrou seu primeiro biógrafo: 

“se lhe era possível, devolvia à água, vivos, os peixes capturados, e recomendava-lhes que não se deixassem apanhar de novo”. Mesmo quando no lago de Rieti recebeu uma tainha de um amigo, “pegou o Santo a tainha e, cheio de alegria e ternura, saudou-a por irmã. Em seguida, restituiu-a às águas do lago” [7].

Portanto, é razoável pensar que um Espírito Puro como Jesus, se naquela ocasião algo multiplicou, foram pães e não peixes. Todavia, abstraindo a ideia do pão, indo além da interpretação literal e respondendo à pergunta sobre as alternativas de saciar aquela multidão faminta, Allan Kardec ensina que o episódio é uma parábola com a qual Jesus comparou o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo. Para o Codificador, a poderosa ação magnética do Mestre lhes saciou a fome, como se pode ler em A Gênese [8]. 

Em todo caso, mesmo que tivesse ocorrido exatamente conforme as narrativas evangélicas, literalmente, as ocasiões não devem ser utilizadas para justificar o consumo moderno de peixes, que ceifa anualmente cerca de 1 trilhão de animais marinhos sencientes, formando as tantas e terríveis zonas mortas nos oceanos, que ameaça todo o equilíbrio da vida na Terra. Morada esta que o próprio Jesus governa. 

JESUS AJUDA OS APÓSTOLOS A PESCAR (João, 21.6):

“E Ele lhes disse: Lançai a rede para a banda direita do barco e achareis.” – Jesus (João 21:6)

O espírito Emmanuel, no livro “Caminho, Verdade e Vida”, extrai o conteúdo espiritual da realidade concreta dos pescadores, que utilizam dos barcos, redes e outros utensílios para a pescaria. Emmanuel, com sabedoria, conduz tais elementos em direção a uma ética divina, de cumprimento da Lei de Deus, sem utilizá-los para justificar a exploração e consumo dos peixes. Diz Emmanuel:

“Figuradamente, o Espírito humano é um “pescador” dos valores evolutivos, na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o “barco”. Em cada novo dia, o homem se levanta com a sua “rede” de interesses. Estaremos lançando a nossa “rede” para a “banda direita”? Fundam-se nossos pensamentos e atos sobre a verdadeira justiça? 

Convém consultar a vida interior, em esforço diário, porque o Cristo, nesse ensinamento, recomendava, de modo geral, aos seus discípulos: “Dedicai vossa atenção aos caminhos retos e achareis o necessário.” [9]

Enfim, a equipe do NEPE MOVE está compilando seus estudos evangélicos à luz da EAE em livro, que brevemente estará à disposição para leitura, bem como divulgando tais estudos em lives e palestras em nossos canais. Por enquanto, não temos um estudo aberto para os interessados, mas em breve teremos. 

Convidamos a todos os irmãos e todas as irmãs ao resgate da dimensão ecológica do Evangelho, para que desenvolvamos um programa prático de ética divina, espírita, cristocêntrica, com vistas à libertação animal, humana e não-humana.

REFERÊNCIAS

[1] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Questão 625, pp. 380.

[2] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). A Caminho da Luz. 38 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. 206 p. Capítulo 1 “A gênese planetária”, item “O Divino Escultor”, pp. 21-22.

[3] FRANCO, D. P; JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Após a Tempestade. 11. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, 2013. Pp. 24 e 25.

[4] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 1 “Ciência”, item 1.1. “Ciências fundamentais”, subitem 1.1.2. “Física”, questão 17, pp. 25.

[5] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 1 “Ciência”, item 1.3. “Ciências especializadas”, questão 77, pp. 58-59.

[6] FOER, JONATHAN SAFRAN. Comer animais. 2011.

[7] FONTES FRANCISCANAS. São Paulo: Editora Mensageiro de Santo Antônio, 2005. Todas as citações sobre Francisco de Assis foram tiradas deste livro.

[8] KARDEC, A. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Capítulo XV “Os milagres do Evangelho”, Multiplicação dos pães, item 48, pp. 299-300.

[9] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). Caminho, Verdade e Vida. 29 ed. FEB, 2015. Capítulo 21 “Caminhos retos”, pp. 57-58.

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