Card #37: “Nunca prorromper em gritos ou exclamações se um inseto ou algum pequeno animal surge à vista.”

Como temos tratado os insetos e pequeninos animais?

Eles não são de Deus?

O desconhecimento da alma dos animais, seus atributos e funções ecológicas fazem parte das razões pela qual estes seres pequeninos são tão maltratados pelos seres humanos.

As baratas, por exemplo, além de participarem do equilíbrio da cadeia alimentar aos seus predadores, têm importante papel na decomposição de resíduos de vários tipos.

As formigas, são como as jardineiras da Natureza, escavam o solo, ajudam a ventilá-lo e espalham sementes, além de também decomporem inúmeros resíduos.

E acima de suas funções ecológicas, imperioso ressaltar o seu valor intrínseco, já que valem por si mesmos e não pelo que podem servir.

Na direção deste senso de pertencimento a uma família multiespécie, que o espírito André Luiz advertiu: “Nunca prorromper em gritos ou exclamações se um inseto ou algum pequeno animal surge à vista” [1].

Interessante notar que com a urbanização e o crescimento desordenado das cidades, os humanos ainda não aprenderam a cuidar dos seus próprios resíduos, e estes pequeninos animais, considerados nojentos, têm feito o “trabalho sujo” que o dito “ser racional” negligencia.

Em seu habitat natural, não existe lixo, tudo é aproveitado para o equilíbrio do ecossistema! Cuidam com zelo e dedicação, enquanto a humanidade invade seus espaços ao invés de coabitar, retira-os do convívio com os seus ao invés de cooperar, e os extermina como culpados de seus próprios desregramentos.

Lagartixas, minhocas, aranhas, roedores…Estas criaturas também são de Deus! O espírito Cornélio Pires, poeticamente, já havia alertado:

“Palavras, mundos, sistemas,

Seres nobres e plebeus,

Animais, insetos, plantas…

Nós todos somos de Deus” [2].

E quem disse que a pureza de coração é virtude somente de quem vê Deus num outro ser humano? A benfeitora Amélia Rodrigues, interpretando esta bem-aventurança do Cristo, ensinou:

“Mas amar a relva, o homem, o céu, o animal, o inseto, a vida em

todas as manifestações, integrar-se na essência da substância divina,

coração aberto ao amor, com pureza em tudo.

“Verão a Deus!” [3].

É admirável aquele que aprendeu a coabitar e contemplar os animais, admirar as flores, os relevos, as paisagens…Enxergar nas mais pequeninas criaturas a Sabedoria de Deus. E sobre comungar com Deus, recordamos logo de Francisco de Assis.

Seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano, registrou que “a todos os seres chamava irmãos” e “até pelos vermes tinha afeição” [4]. E arrematou: “quem poderá descrever o seu inefável amor pelas criaturas de Deus e a doçura com que nelas admirava a sabedoria, o poder e a bondade do Criador?” [5].

De fato, precisamos muito aprender a coabitar e reconhecer o direito indistinto de pertencer, de viver, independente da forma que o princípio divino se apresente, encoberto pela matéria. O senso de família multiespécie é um grande desafio para o século 21, se quisermos verdadeiramente evoluir.

Para tanto, se faz necessário reconhecer o princípio espiritual nos demais seres, respeitar as suas funções ecológicas, usar a inteligência humana para cooperar no que for necessário e aprender a progredir coabitando, sem os recursos do extermínio. Enfim, assumir a finalidade da existência humana que é ser um legítimo Cooperador de Deus, como disse Emmanuel [6].

Afinal, já havia dito André Luiz que “O respeito à Criação constitui simples dever” [7].

Sigamos…

.  

Referências:

[1] XAVIER, F. C.; ANDRÉ LUIZ (Espírito). Sinal Verde. São Paulo: PETIT, 2004. Capítulo 48 “Imprevistos durante visitas”, pp. 139.

[2] XAVIER, F. C.; CORNÉLIO PIRES. Degraus da vida. Mensagem “Somos de Deus”:

[3] XAVIER, F. C. AMÉLIA RODRIGUES (Espírito). Primícias do Reino. 12 ed. Salvador: LEAL, 2015. Capítulo 3 “O excelso canto”. pp. 62:

[4,5] FONTES FRANCISCANAS. São Paulo: Editora Mensageiro de Santo Antônio, 2005. Todas as citações sobre Francisco de Assis foram tiradas deste livro.

[6] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 2 “Filosofia”, item 2.1. “Vida”, subitem 2.1.2. “Experiência”, questão 136, pp. 96.

[7] VIEIRA, W. ANDRÉ LUIZ (Espírito). Conduta espírita. 32 ed. 7 imp. Brasília: FEB, 2017. 118 p. Capítulo 33 “Perante os animais”, pp. 89-90.

6 respostas
  1. Maria Lúcia Silva Rodrigues
    Maria Lúcia Silva Rodrigues says:

    Ĺendo esta mensagem vejo a minha pequenez!
    Como estou longe de tratar a todos os seres como irmãos!
    Embora me extasie com a Natureza, às vezes me desarmonizo com a simples presença de uma lagartixa!

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    • Rafael Van Erven
      Rafael Van Erven says:

      Querida irmã, gradativamente, vamos ampliando a nossa percepção e passando a perceber o que está além daquele corpinho e se adequando a coabitar com eles harmonicamente. Cada passo nessa jornada perceptiva é valioso. Sigamos…

      Responder
  2. Camila Bertozzi
    Camila Bertozzi says:

    Que texto inspirador!! A partir de agora vou adotar este termo “família multiespécie”. Muito obrigada pelo trabalho e pelas mensagens que nos transformam e nos ajudam a sermos pessoas melhores!!

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    • Rafael Van Erven
      Rafael Van Erven says:

      Querida irmã, quão maravilhoso saber que nossa família é tão grande né? Envolvendo toda uma dversidade de de inúmeras espécies. No Direito de Família, esse termo “família multiespécie” já é adotado. Paz e bem!

      Responder

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